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Reflexões para um debate sobre as agressões machistas: Espaços "libertários" não estão isentos de agressões!
Coletiva Anarcafeminista Marana
É muito difícil deixar de viver valores, atitudes e comportamentos que assumimos como normais. Isto requer pensar, debater, questionar-se, tanto a nível pessoal quanto coletivo. É preciso criar um discurso, que seja sincero, crítico e construtivo.
E já faz algum tempo que estamos vendo crescer o número denuncias públicas de agressões machistas contra mulheres e lésbikas dentro de movimentos sociais, autônomos e/ou libertários, por outro lado o enfrentamento a esses processos tem sido extremamente duro, pois muitas dessas companheiras têm sido questionadas sob a veracidade de suas denúncias. Apesar disso, a tomada de posicionamentos e solidariedade tem aumentado, o que nos faz crer que as reflexões pessoais e coletivas têm dado diferentes respostas as agressões concretas. É preciso reconhecer o valor destas denuncias e ampliar essa rede de apoio às mulheres que tem denunciado as agressões.
O ressurgimento do debate sobre o feminismo, auto-organização das mulheres e lésbikas, violência machista e estratégias de ação, lançou luz sobre questões antes negligenciadas ou armazenadas numa gaveta, por isso não é tão fácil evitar se envolver ou desviar o olhar. Algum@s pessoas estão levantando esta questão pela primeira vez, outr@s foram se escondendo atrás de velhos privilégios, posições confortáveis e imóveis, de modo que nada muda, outr@s continuaram a crescer em diferentes direções.
São essas vozes de várias perspectivas, tempos e lugares que compartilham com um traço comum no debate: o olhar sobre a violência machista contra as mulheres e lésbikas como um problema cotidiano, estrutural, multicausal, que nos atravessa. Esta visão compartilhada se opõe à imagem midiatizada que só destaca as conseqüências mais brutais de violência, e se resume a uma questão de "alguns homens doentes e machistas, e algumas pobres mulheres vítimas que precisam ser protegidas". Então quando falamos de violência machista contra as mulheres e lésbikas dentro dos movimentos sociais e/ou libertários, precisamos romper com as fronteiras internas que não são diferentes da externa, ou da sociedade em geral. Afinal, a violência é a mesma.
E é por isso que nós, feministas continuamos falando da violência machista nos movimentos sociais, autônomos e/ou libertários, onde nós estamos, porque englobamos diferentes realidades com certos códigos compartilhados que permite nos entendermos, e, acima de tudo, porque eles começam a partir de uma vontade que é transformadora e que devemos recorrer. Fazer ações públicas que permitam colocar nome e rosto de agressores, colabora para que deslegitime e tire o poder deles, além de desmistificar a violação machista que ainda é encarada como algo que sempre vem de fora e praticada por "outros" (bêbados usuários de drogas...) e acaba ficando estigmatizada.
A vergonha é deles e não nossa!
Na noite de 3 de outubro de 2012, Paula Dahmer, ativista feminista de Curitiba veio a público denunciar que foi agredida na rua e depois dentro de sua casa pelo seu companheiro, Gustavo Oliveira (ativista do MPL - Movimento Passe Livre, CMI - Centro de Mídia Independente e vocalista da banda punk Nieu Dieu Nieu Maitre e Holodomor, de Curitiba/PR).
Nós consideramos legítima a ação da ativista, especialmente quando realizada em um ambiente político, como foi neste caso e outros que já presenciamos. Mesmo diante das circunstâncias, encontramos resistências de muitos lados para reconhecer a existência de um agressor nos espaços de militância, e chamamos a atenção para os ataques, questionamentos, e interpretações perigosas a respeito das ações feministas e de seus objetivos. Isto nos faz pensar que os movimentos sociais, sobretudo no campo da esquerda (possivelmente por falta de costume e prática) pouco tem avançado no combate ao machismo e violência contra as mulheres nos espaços políticos.
Não existe nenhuma justificativa para o que aconteceu com Paula. Não podemos ser coniventes com esse tipo de situação, nem disfarçar o ocorrido. O agressor só agiu dessa maneira porque ela é mulher e porque ele sente respaldo na sociedade (e nos espaços de militância) nas suas atitudes machistas. A denúncia é uma ação feminista como uma das respostas que visa contribuir para que tenhamos novos caminhos e olhares, mesmo nos momentos difíceis para afrontar a violência machista e fazer da luta anti-sexista uma realidade.
E nós, Mulheres e Lésbikas Anarcofeministas da Coletiva Anarcafeminista Marana, manifestamos repúdio às agressões machistas ocorrida com a ativista, e queremos dizer publicamente que admiramos sua coragem em seguir com a denúncia e que estamos dispostas a apóiá-la no que for preciso.
Este também é uma chamada para a auto-organização das mulheres e lésbikas, a sororidade, a ação direta, para continuarmos criando iniciativas de luta contra a violência machista, dentro e fora dos espaços de militância política.
NENHUMA
AGRESSÃO MACHISTA FICARÁ SEM RESPOSTA!
COLETIVA
ANARCAFEMINISTA MARANA
Contato: coletivamarana@gmail.com
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